Repórter A Noite 2ª Edição

Terça-feira, 18 de Abril de 2023. Atenção, atenção repórter A Noite.

Volitamos até o cemitério de Vila Formosa, que não é exagero ser reconhecido o maior cemitério da América Latina. São muitos metros quadrados de uma área tomada por forte guarda astral, além de um verdadeiro Q.G. de Exus. Fomos até o local para conseguir informações as várias perguntas que fiz para Tunico, e que não me foram respondidas. Meu Guia então, disse que precisava de informações, e segundo ele, lá conseguiria.

Não consegui entrar ao mesmo tempo que Tunico, ficando em uma ante sala do Q.G. até que minha entrada fosse autorizada. Instalado na parte central do cemitério, o Q.G. destes Exus é algo espantoso: Uma organização de dar inveja a qualquer organização militar terrena. Contava com uma guarda atenta na parte externa, e no interior do prédio, algo que se assemelha a praça dos três poderes em Brasília – digo na parte estética, nunca ao funcionamento da máquina pública – com várias portas de acesso às salas de reunião, secretárias do sexo feminino, que depois Tunico me revelou serem das falanges de Pomba-gira, que são afeiçoadas ao trabalho burocrático despacham ordens, fazem convocações, entre outras várias obrigações, além de salas próprias para o trabalho de auxílio e encaminhamento de espíritos, uma espécie de triagem: Alguns vão para celas de prisão, que o Q.G. tem disponíveis para depois serem levados sob escolta para locais do astral inferior, outros são encaminhados para instituições hospitalares astrais, outros ainda, esboçando uma vontade inquebrantável de abandonar caminhos tortuosos, são levados para instituições de reciclagem e ensino. Há ainda aqueles que são levados para colônias astrais, por serem espíritos de boa índole, e sem grandes dívidas com a lei.

Bem, me estendi nesta descrição, que me foi revelada por Tunico, após devida autorização do chefe do local, o Tranca-ruas, que autorizou minha entrada e breve passeio pela instituição. Infelizmente para mim, este Exu responsável no dia – sim, digo no dia pois estes Q.G.s tem chefias rotativas, funcionando aos moldes das instituições militares da Terra. Há um General, que raramente está presente, e o Oficial de dia, no caso do Exu Tranca-ruas – que estava atarefado na ocasião, e não foi possível uma entrevista. Mas não desisto, em breve retornarei com notícias destas paragens astrais.

As informações da qual eram nosso objeto primeiro, se referem ao estado de coisas em que se encontram os encarnados, e minhas perguntas não foram sanadas por Tunico. Este, apesar de ótimo guia turístico, posso dizer que suas percepções sobre assuntos de esferas elevadas não são de sua alçada; já aquelas que dizem respeito ao astral inferior, Tunico é méstre. Ninguém melhor que este nobre Exu conhece as artimanhas dos velhacos, embusteiros do astral.

—“Precisamos ir até a Arquidiocese de Cuiabá, no Mato Grosso, lá se encontra o espírito que detém as respostas que o Sr. necessita”; revelou Tunico. Esta informação só foi obtida graças a nossa visita ao Exu Tranca-ruas em Vila Formosa.

-“Nossas visitas aos terreiros terá de ser adiada Sr. Tunico. Preciso ter com este nosso amigo”, disse eu a meu guia. Daqui em diante precisarei omitir o nome da Igreja em questão, onde se encontra o Sr. G.K.C, precisarei o descrever apenas com as iniciais de seu nome. Os motivos são óbvios: Por ser uma informação sigilosa, e existir uma guarda astral preocupada com possíveis emboscadas a este espírito iluminado, não serei eu, um humilde repórter do além a pôr tudo a perder.

A noite anunciava sua chegada, a estrela vermelha(planeta Vênus) se achegava ao lado da lua com sua irmã menor(Marte), um misto de poluição associada a poluição astral deixava as cores do crepúsculo ainda mais vivas. Este era o quadro no estado do Mato Grosso quando chegamos. Fomos direto a Igreja onde o Sr. G.K.C. iria nos receber, pois nossa visita já havia sido anunciada e marcada de antemão. Parece estranho? Não lembram de quando descrevi o Q.G. de Vila Formosa? Por aqui, apesar de poderem ser chamadas de “instituições públicas” elas funcionam, e seus servidores levam o trabalho a sério, o exercem com honestidade e integridade, valores raros no Brasil entre encarnados, sejam de instituições públicas ou privadas. Aqui tudo funciona, e estes trabalhadores sabem que um erro ou omissão intencionais são pagos com a destituição do cargo e pesadas penas, tanto quanto o dano que for causado. Não soa politicamente correto? Sim claro, entendo, pois em vosso mundo impera a patifaria. Pobres crianças, ainda não conseguem distinguir o certo do errado, quanto mais o bem do mal, ou descrever o que seja caridade. Querem um conselho? Aprendam apenas amar o que é bom, odiar o que é ruim. Já estará de ótimo tamanho.

Desculpem a acidez, mas o pouco que coletamos em Vila Formosa me deixou assim. A igreja estava totalmente cercada quando chegamos, desde os quarteirões próximos, até o telhado. Entramos pela porta lateral da Igreja, que dava acesso direto ao gabinete onde o pároco encarnado também estava. Se preparava para a missa que celebraria às 19 h. Ao seu lado, um espírito de um homem, vestido com roupas nitidamente do século XIX. Era por assim dizer… um pouco fora de forma o Senhor G.K.C. mas extremamente bem animado. Presentes no gabinete também dois guardas astrais, um Exu, e outro que era o guarda pessoal do Pároco. O Sr. G.K.C. entregava sugestões mentais ao Padre, ao mesmo tempo que fazia breves piadas, que todos nós, apesar de estarmos chegando, não aguentamos e acabamos todos em grossas gargalhadas. As piadas giravam em torno da calvície do Padre, pois enquanto o Sr. G.K.C. sugeria o sermão, se aproximava de sua cabeça. Se fosse possível aos encarnados ouvirem, ecoariam em toda Igreja. – “O Senhor Padre poderia trocar um pouco de sua grande capacidade de pregação por um pouco de cabelos”; divertia-se o Sr. G.K.C. Ah, ah, ah, ah.

Continuamos…

S.D.G.