A Iniciação na Umbanda

Iniciação (do latim initiatio) é um termo que remete a começo, a iniciar algo. Iniciação dentro da Umbanda, trás um significado profundo: Iniciar o neófito no mistério dos Orixás, fazendo um diagnóstico de seu enredo espiritual podemos dizer, ou seja, Orixá de frente, Ajuntó e demais Orixás que compõe este enredo, consagrando este filho de Umbanda aos seus Orixás e todos os demais, porque, apesar de, por uma particularidade sermos filhos de determinado pai ou mãe Orixá, todos os demais também são nossos pais e mães, e devem ser devidamente reverenciados e cultuados. Ou não é verdade que precisamos de alguém para abrir nossos caminhos, alguém que nos de movimento, amor, fé, conhecimento, direção na vida, e cada um dos pais e mães Orixás cuidam de uma determinada força, que agirá em nosso Ori(cabeça).

Também, por meio da iniciação, passamos a fazer parte daquela família espiritual do terreiro que escolhemos para fazer parte. Todos os encarnados passam a ser meus irmãos e irmãs, ganhamos um pai ou mãe espiritual, além de um padrinho ou madrinha, também somos adotados pelo Orixá de nosso iniciador encarnado, que passará a ser a nossa bandeira.

Então, deixamos o velho eu para trás para viver uma nova realidade, onde novos valores, crenças e atitudes devem ser assimilados e vivenciados, sempre visando um crescimento e uma melhora do ser humano. A Umbanda tem, como já escreveu Omolubá, a função de “despertar anseios de espiritualidade” na criatura humana, e como objetivo final fazer com que sejamos hoje, um pouco melhores do que fomos ontem, melhores pais, mães, esposos(as), filhos(as), amigos(as), enfim, humanos melhores.

Quanto a ritualística para iniciar um novo filho na Umbanda, esta não é tão elaborada como nos cultos de nação ou do Candomblé, pois a Umbanda prima pela simplicidade em seus ritos. Tudo começa então pelo Amaci.

O Amaci é um preparado feito com ervas especiais, de acordo com os Orixás do iniciado, para lavar seu Ori(cabeça), em um ritual simples, mas de profundo valor, onde o sacerdote lava as mãos, o alto da cabeça, as frontes, testa, e também toca com um pouco de ervas alguns pontos do corpo do novo iniciado. Estes pontos são entendidos como pontos vitais e de significado espiritual no corpo, como garganta, a sétima vértebra próximo a nuca, palma e costas das mãos, o umbigo, joelhos e pés. Após a lavagem, marca também estes pontos com banha de ori, uma espécie de manteiga vendida nas casas de artigos para religião afro, e após pode fazer ou marcar também estes pontos com o símbolo da Umbanda, feito com a Pemba branca.

Costumamos também, antes de realizar este ritual, mas não é uma regra, passar um axé, ou realizar um descarrego no iniciando, para tirar qualquer resquício de sujeira astral em seu duplo etéreo, além de ser indispensável um banho de descarga com ervas apropriadas antes do ritual.

Costuma-se também guardar preceito durante sete dias, evitando frequentar lugares muito carregados, como motéis, bares, casas noturnas, hospitais e cemitérios, além de não fazer sexo e evitar discussões.

Deve-se também a partir deste marco, oferendar seus Orixás e Guias regularmente, não sendo necessários grandes dispêndios para oferendas, que podem ser, de acordo com as condições do iniciado, desde uma vela, até um prato com frutas diversas ou a comida votiva do Orixá em questão.

Após o Amaci, que, como já dissemos, é a primeira iniciação do neófito que acaba de adentrar a Umbanda, diversas outras iniciações vão sendo realizadas, cada uma dando uma chave ao novo filho, que passa, de acordo também com o seu interesse em estudar e aprender mais sobre a religião, a dominar a magia e a assimilar as milhares de informações que devem ser aprendidas por quem é candidato a trabalhador de Umbanda. A grande maioria destes conhecimentos são empíricos, ou seja, aprende-se fazendo, e estando presente nos rituais realizados. Aquele iniciado que não frequenta ou não está no terreiro nestes dias, deixa de ter acesso a esses conhecimentos, que não são apresentados aqueles que não se fazem atuantes e presentes na vida religiosa da família de santo.

Alguns acham que isso é uma espécie de egoísmo, ou forma de manter os filhos presos ao terreiro, mas a verdade é que diversos destes conhecimentos são iniciáticos e recheados de simbolismos, já com a intenção de que não sejam codificados por qualquer pessoa, pois são conhecimentos que fazem sentido para uma comunidade, a Umbandista, e não fariam sentido por exemplo, para uma comunidade evangélica, fato este que já exclui a intenção de verbalizar em um livro, por exemplo, para ser publicado tais ensinamentos. A religião dos Orixás sempre foi uma religião oral, com ensinamentos passados de geração a geração pela oralidade. A Umbanda, creio, está em um misto, tendo grande parte já escrita, e ainda sendo escrita, e outra parte, mais iniciática, ainda sendo passada via oralidade. Como diziam os mais antigos: “Quem sabe é porque estava na hora certa, no lugar certo, o que não sabe é porque não estava, então, não deve saber”.

Por fim, a iniciação trás por si só, o sentido que o neófito entenderá mais tarde: Todos estes ritos, tem como função maior ajudar o ser humano a encontrar a SUA voz, livre de qualquer interferência, para que possa enfim falar com seu Criador.

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