Um diálogo entre um Preto Velho e Allan Kardec – uma homenagem aos Pretos Velhos

            Jesus salve a Umbanda.

            O ano era o de 1863. E na residência dos professores Rivail e Amélie, ambos estavam agitados. A moradia estava localizada na Rua de Sainte Anne, n° 59, na cidade de Lyon, França. É que naquela noite, precisamente as 23h, o Espírito da Verdade voltaria a se manifestar, mas desta vez traria um amigo.

            Por isto Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou apenas Allan Kardec, e sua querida esposa Amélie Gabrielle Boudet, estavam cada um em seus afazeres, já quase dispensando seus alunos da última aula da tarde fria de Lyon.

            Ambos eram rigorosos, disciplinados no cumprimento da missão que lhes fora apresentada anos antes pelo próprio Espírito da Verdade, e aceita prontamente.     

            Os Professores estavam curiosos em saber quem era o amigo que se apresentaria naquela noite. Desde o início dos trabalhos, poucos amigos haviam vindo junto com o Espírito da Verdade. E a noite, iriam começar com a organização de uma nova obra da codificação, talvez a mais importante. Já haviam lançado o Livro dos Espíritos (1856) e o Livro dos Médiuns (1861).

            Chegado o momento, médiuns prontos, e do outro Lado vem o Apostolo da Verdade, e se iniciam as orientações ao Organizador da Codificação a respeito da nova obra, conteúdo, objetivo, finalidade, organização, etc…  

            No entanto, Allan Kardec percebeu que o Mestre, para responder algumas perguntas, aguardava certo tempo, como se estivesse ouvindo alguma orientação. E isto se repetiu ao longo de 2h.

            Até que Allan Kardec, muito curioso e interessado, até pensativo (porque o Grande Espírito da Verdade precisaria pedir conselhos ou ouvir orientações acerca desta nova Obra???) resolveu tomar a liberdade e, de forma muito educada, perguntou ao Apóstolo da Verdade sobre quem seria o “amigo espiritual” que estaria participando ativamente dos trabalhos.

            – Informo que está presente entre nós meu conselheiro pessoal, o Preto Velho Pai Antônio, respondeu o Espírito da Verdade.

            – Pai Antonio?? Quem é este espirito e porque este adjetivo de “preto” e “velho” antes, e depois de um pronome de “pai” novamente antes do nome, perguntou Kardec?

            – Pai Antonio é um velho espírito que acompanhou meus pais terrenos Maria e José, aconselhando-os em sua caminhada até meu nascimento. E para esta tarefa de organizar, explicar e ditar os MEUS EVANGELHOS SEGUNDO O ESPIRITISMO, ninguém melhor do que ele, na figura de um velho homem, um velho pai, de um velho negro, incompreendido, tratado com escravo, pobre, com alto grau de amor, de compaixão, de perdão, tolerância e paciência.

            Mas deixemos as apresentações para uma outra época e outro local e lugar, oportunidade em que auxiliará na implantação de uma nova religião lá no Brasil, servindo de Mentor e Guia para um jovem de se chamará Zélio de Moraes…

            Em face desta resposta, indagou Allan Kardec:

            – Agradeço pela explicação e pela confiança meu Senhor! Mas já que estamos na presença de ilustre espírito, posso fazer algumas perguntas?

            – Pode fazer!

            – Qual é o principal objetivo desta nova obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, perguntou Kardec?

            Se manifestou timidamente pela primeira vez o Preto Velho Pai Antônio:

            – Meu fio, será para revelar a Moral do Cristo!

            – O Senhor poderia fornecer mais alguma explicação meu Pai Antônio?

            – Meu fio, a população da Terra precisa de regeneração moral, para depois, num segundo momento, conseguir a regeneração espiritual. A coisa tá complicada entre vocês.

            – O Senhor não é falar muito, não é, afirmou Kardec?

            – Não senhor, não sei de muita coisa pra falá! Quem tem pra falá é nosso Mestre que está aqui! Pergunte a Ele, eu tenho pouco assunto. Sou muito véio e não tive escola.

            – Tudo bem! Mas o Senhor então não quer sentar? Está em pé desde o início dos trabalhos, perguntou a atenciosa esposa de Kardec, Amélie.  

            – Carece não minha senhora, não precisa. Preto sempre ficou de pé nas conversas com meus Senhores. Este véio aqui não senta não, respondeu Pai Antônio.

            – Mas o Senhor quer mais alguma coisa? Algo que podemos lhe fornecer para que se sinta melhor?

            – Tem sim minha fia! Reparei que seu marido Kardec fuma cachimbo. Véio gosta muito de fumá cachimbo. A Senhora pode pegar pra mim?

            – E a Professora Amélie, surpresa com o pedido, de pronto perguntou para o marido: Kardec, onde está seu caximbo?

            Pelo que rapidamente respondeu Pai Antônio:

            – O cachimbo de Kardec está no toco minha fia…e lá foi a esposa de Allan Kardec busca…

            Enquanto isto, olhando o que acontecia, lá estava o Padre Gabriel Malagrida ao lado do Espírito da Verdade, de longe observados por um Caboclo de nome 7 Encruzilhadas, ambos sorrindo ao verem um Preto Velho conversando com Allan Kardec e sua esposa, fumando seu cachimbo…

            Um saravá a todos os irmãos.

            José Augusto da Cunha Meira.

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