O relato a seguir nos foi enviado por uma médium vidente, trabalhadora de Umbanda, de nome Claudia de Iansã. Vamos ao texto:
Uma certa noite, na cidade onde morava, uma amiga pediu que desse uma carona e a acompanhasse até um cemitério rural (aqueles cemitérios de família, feitos dentro de antigas fazendas, muito comum na minha região) pois ela precisava no sincretismo religioso dela “pagar as almas”. E qual médium vidente não tem essa curiosidade?
Muito bem, todos os apetrechos acomodados no carro 23h e lá fomos nós em direção à zona rural. O cemitério ficava em um morro, com o portão principal para a estrada de terra, no caminho temos que atravessar um bairro perigoso, até sair da zona urbana, e aí já começaram
as visões além-túmulo, talvez como sinal de alerta, que no momento da empolgação da nova aventura mediúnica não me atentei. Aqui abro um parêntese para explicar que mediunidade é inerente a crença, religião ou fé, e tratada com desrespeito, curiosidade, pode nos levar a sérias
armadilhas e desequilíbrios, por isso a importância do estudo e conhecimentos dos mecanismos mediúnicos – médium, palavra que vem do latim, médio, mediado entre dois mundos.
Ao adentrar o referido bairro já visualizei sentinelas das sombras fazendo a guarda, pois é um bairro de traficantes, até aí passamos sem muita importância, ao chegarmos na rua que acabaria na estrada rural e consequentemente no portão do cemitério a coisa ficou feia, mais
densa, mais escura, o ar pesado, uma sensação de estar sendo vigiada, havia muitos desencarnados que acompanhavam o vai e vem dos encarnados que ali perambulavam fazendo negócios escusos, mas como tínhamos a certeza na nossa imprudência da tarefa que executaríamos, seguimos confiantes.
Chegando no alto do morro, parei o carro de frente para o portão do cemitério, com os faróis ligados para iluminar o breu que se fazia naquelas paragens, posso dizer, comandadapelas trevas.
Primeiro vou narrar a parte física, vista por qualquer um, portão antigo, túmulos individuais, todos no chão, alguns com pequenas capelas, outros já abandonados, muito mato na volta, chão de terra, cerca de arame, bichos do campo morando em túmulos quebrados, visivelmente um cemitério abandonado a sua sorte, dos meados dos anos 1800 e pouco. Parece um lugar simples, onde só tem poucas histórias da família que dá o nome a ele. Passamos agora para o outro lado, no portão já nos aguardava um espírito em forma de caveira e um outro em forma de índio, que ao serem saudados e pagos, imediatamente não se opuseram à nossa entrada, eram quatro encarnados e uma ave, que ela iria oferecer na crença dela. Muito bem, chegamos ao centro do cemitério só com a luz de uma lanterna, quem não tinha visão espiritual, tinha medo só das cobras e aranhas, ah, mas se pudessem ver o outro lado, não existia terra e sim lodo, todos os túmulos eram bem ocupados, a atmosfera era muito negra, densa, como uma fumaça escura.
Escolhido o local da oferenda, ela começou a organizar o material que levamos, em uma determinada ordem, até ajeitar para sacrificar a ave e quando ela começou a tocar a sineta, a chamar para fazer o sacrifício, foi aí que o bicho pegou, só então me dei conta do erro cometido, quando tentei virar para não participar, vi uma mão no meu ombro e escutei, agora não é hora de sair daqui, apenas observa. Me senti em um dos filmes do Indiana Jones ou os Caça fantasmas, quando abrem a arca do mundo das trevas para os demônios subirem a terra.
Vinham almas de todos os lados, dos túmulos, do chão, do céu, em forma humana, animal, misturado, circulavam entre nós numa dança frenética e aterrorizante e a uns metros de distância um espírito com uma forma grotesca, tamanho descomunal se comprazia com a cena, e ali fiquei paralisada, não lembro nem se respirei.
O que me chamou atenção foi que o único espírito que não apareceu foi o que ela chamou. Oferendas postas, hora de sair dali aquela turva dantesca nos acompanhou até o portão e um especial voltou agarrado nela, e não era nada do que ela imaginava que fosse, como eu era apenas a que estava dando carona e já tinha percebido o tamanho da encrenca, preferi não me manifestar, ignorando que via tal companhia, depois disso, as noites seguintes não foram muito fáceis, muitos pesadelos, durante o dia vários problemas apareceram, fadiga, irritação e
com isso todo um processo de limpeza, reenergização e recuperar o equilíbrio.
Note bem, isso que narrei não acontece só com o médium vidente, acontece com qualquer desavisado que se preste a aventuras espirituais sem o mínimo de conhecimento e amparo.
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