COM A APLICAÇÃO DOS IMPERATIVOS CATEGORICOS MORAIS NO COMPORTAMENTO MORAL NA UMBANDA.Por Jean Santana
Immanuel Kant (1724 – 1804) filósofo alemão iluminista, desenvolveu diversos raciocínios filosóficos questionadores na busca da verdadeira conduta digna de um ser humano adequado ao resultado deste comportamento mediante observações de princípios morais categóricos, determinado por um Tribunal chamado consciência, o que se observa no livro metafísica dos costumes (1797).
Trata-se de uma leitura de muito fôlego, que não será debatida aqui nas suas minúcias, pois a ideia é demonstrar que os fundamentos desenvolvidos através do Caboclo das Sete encruzilhadas, também estão alicerçados em princípios categóricos de comportamento consciente de nós umbandistas com relação nossa ação sobre todas as coisas e nossa conduta com todos os seres vivos que compartilham a vida.
Quando se fala em metafísica, significa o mundo das ideias, do pensamento, da inteligência, da razão. Logo, afastado do mundo da sensibilidade dos experimentos e sensações do mundo físico, ou seja, dos desejos.
Kant, lança de forma primordial os imperativos categóricos de dever agir mediante uso exclusivo da razão, ou seja, a vontade humana deve ser mediante inteligência racional, não instintiva, aplicada ao conhecimento moral, fazendo com que um dever de conduta possa valer por si mesmo, e que não seja contaminado pelas inclinações dos nossos instintos, respeitando a vida na sua completude.
Esse comportamento, se for observado com carinho, também é exigência para quem zela, trabalha e frequenta um Terreiro de Umbanda nas suas origens e fundamentos.
O primeiro imperativo categórico é aquele que diz: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal”.
O que podemos esperar de um Umbandista, ao analisarmos este imperativo categórico?
A resposta é o comportamento moralmente livre. Este deve servir de exemplo para quem nos observa, no dia a dia do Terreiro ou fora dele. Essa observação faz com que o bom exemplo realizado se propague nos demais comportamentos até a sua universalidade, tornando-se lei, entre aqueles que a praticam.
Nesta esteira, é inafastável o ensinamento transmitido nos terreiros de Umbanda, assentados pelas entidades de Zélio de Morais, por ordem de Jesus Cristo na fundação da Umbanda.
Como podemos ajudar quem procura o Terreiro, com as suas angústias, incertezas, desesperanças, se os nossos comportamentos não servem de exemplo, causando ainda mais incertezas e descrenças? A vigília, com relação as nossas condutas e atitudes e o resultado delas, necessitam ser permanentes, sob pena de perda do propósito que se destina a fundação da Umbanda.
Já a segunda ordem do imperativo categórico expressa: “Age de tal forma que uses a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo, como fim e nunca como meio.”
À vontade expressada aqui, não pode ser confundida com uma simples condição de fazer uma determinada conduta para ter proveito próprio, com louvores ao ego mediante alguns benefícios que satisfaçam os desejos de um médium ou do próprio consulente, mas sim uma forma livre de movimento de dever agir, na busca de um bem-querer, questionando de forma racional se gostarias de estar no lugar daquela pessoa que sofre uma conduta que não é moralmente aceita, lançada seja lá por quem for.
Desta forma, a trocar de lugar com o ofendido, de forma mental, e método mais propício para saberemos a resposta que procuramos.
Cabe aqui relembrar que há dois mil anos, um Ser de Luz, chamado Jesus, disse através da razão em Deus: “Amarás o Senhor teus Deus, de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, significa dizer que somente sou digno da minha existência quando o meu propósito se reconhece no bem-querer do outro, pois se Deus habita em mim, ele também estará em outra(o) irmã(o). Todos somos um.
Tal inteligência não pode ser afastada da Umbanda, mesmo porque, se o amor, humildade e caridade, são os pilares da nossa religião, é impossível ignorar esse raciocínio de comportamento na vida.
O terceiro e último imperativo categórico, diz que: “Age de tal maneira que a tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo como um legislador universal através de máximas”.
Traz para a luz a autoavaliação das nossas condutas, que será analisada, confrontada e julgada pela nossa mais alta Corte, a nossa consciência, o espelho sem aço ou moldura para nos escondermos, e que, conforme o caso, nos fará cair de joelhos, em prantos com pedidos de perdão pelos erros cometidos
Esse é o momento da verdade mais assustadora, que mesmo que ninguém saiba, e, desenvolvamos justificativas de “desculpas furadas” que “foi só isso ou aquilo”, “não é nada grave…”, “foi só uma vez, não preciso contar”, etc…, a nossa consciência, o legislador universal, sabe e julga de forma impiedosa.
A rigidez na conduta dita por Kant, pode parecer impossível de exercer em face das nossas imperfeições que possuímos, em qualquer área de nossa existência, porém é um ponto importante de alinhamento racional sobre o caráter, sobre a moral, sobre a ética.
A Umbanda também prima por essa rigidez, que aos poucos foi se perdendo, pois está sendo utilizada como meio e não como fim em si mesmo, ou seja, usam-na sem o propósito que foi criada (doação, amor, caridade, fé, compreensão, respeito, humildade, razão), derrubando-a sem se preocupar com as flores, frutos e vida que habitam nela, tudo em nome do ego, valor econômico, da expansão dos likes, da apreciação e envolvimento político-partidário.
O Terreiro de Umbanda, é essência em Jesus Cristo, é respeito ao Caboclo das Sete Encruzilhadas, ao Pai Antônio e a Zélio de Morais, é respeito pelas diretrizes do terreiro que se frequenta, – o que faço questão de sempre afirmar; pois há que se respeitar essa formação ancestral da nossa religião, para que possamos minimamente ser dignos da convivência com a espiritualidade (orixás, caboclos e caboclas, pretos e pretas velhas, crianças, exus e pombo giras) e ofertar em troca o nosso comportamento moral que servirá de exemplo a todos que buscam conforto em suas vidas, podendo assim propagar também no seu cotidiano os ensinamentos de Umbanda.
Saravá, Caridade.
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